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Anatomia do luto é uma pesquisa/rito/performance de busca por materializar sentimentos provocados por experiências de perdas. Um espaço para deixar o corpo expressar intuitivamente o sentir. Um convite para trazer para a pele, para o gesto, para a superfície: a expressão. Aquilo que muitas vezes não é compreensível à mente, mas necessário ao corpo para dar vazão, ressignificar, compreender, seguir em frente.
Anatomia do Luto I - trazer à pele o sentir
Um convite a lembranças dolorosas da experiência de testemunhar a perda de capacidade motora de minha avó.
O local, um bambuzal que atrás de mim estava já ressequido morrendo e em minha frente, verde, nascendo.
A ação: Passo uma matéria orgânica pegajosa em meu corpo, na intenção de gradativamente cercear minha capacidade de movimento. Simbolicamente adicionando e depois retirando uma pele que não é minha, deixei a expressão acontecer de forma caricata e intuitiva. Uma performance de aproximadamente 2h que me colocou em contato com sentimentos, gestos, memórias que evitava recordar. Para diluir raivas, ressentimentos, culpas.
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Anatomia do Luto II - Trazer as águas
Contemplo. Fluo. O espinho da rosa me fura o peito. Sinto. Aquieto. Evoco o movimento das águas internas. Em um tempo dilatado, me propus a entrega, a aceitação do que foi, como foi, e não como eu gostaria que tivesse sido.
Anatomia do Luto III - Nutrir
Recordo a memória da última frase que tenho em mente de conversar com minha avó, ela me pergunta:
“Quando você vai vir para gente fazer doce de leite?”
Faço então o doce no tacho de cobre, herança.
Durante, aproximadamente 5 horas, acendo o fogo do fogão a lenha, preparo os ingredientes e mexo em movimentos circulares, pacientemente, cantando memórias afetivas de experiências de alegria, sorrisos, boas conversas, e rezas junto a ela. Me nutri e partilhei o doce com outras pessoas, num gesto, de adoçar o amargo que o luto pode trazer. Me nutri, me acolhi.
Estes foram os gestos da adulta, criança, anciã que sou. De mim que sou neta e também sou ela, minha avó.
Qual é o seu gesto?
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Renata Delgado é multiartista. Tem o corpo e suas relações como caminho investigativo. Foi Co-fundadora do Coletivo Naiá e, durante 9 anos realizou proposições que integravam arte e o fortalecimento de mulheres. Atualmente se especializa em Cultura Visual - Fotografia e Arte Latino-Americana pela Universidade Católica de Pernambuco e desenvolve projetos artístico-culturais onde atua como produtora, designer gráfico, educadora e fotógrafa.