Mundiada
Há, no meu processo criativo, a itinerância. Crio, sobretudo, porque sou capaz de me mover em diversas dimensões e temporalidades. É o movimento que ergue a criação, uma criação embevecida pelo dinamismo da vida. Que nasce do mistério, do saber ser cósmico. Cadência dos metais líquidos da Terra. Magma da memória. Composição infinitesimal das estrelas. Crio porque sou criação e criatura.
“Mundiada” é itinerância pelo breu do silêncio. Sussurro do que vive no fundo. Um calar-se profundo de um mergulho. Uma visagem que se enxerga nas frestas da visão. Um sonho colhido das águas. A mudez capaz de ser reza. Encantados dançando entre missangas. Versos e costuras por onde refaço meu mocambo e sintonizo as vozes da minha linhagem no timbre da minha garganta, na agulha que seguro entre meus dedos.
as pálpebras do mistério:
tecidos que descanso sob minhas mãos
resmungam os silêncios para que a lua desperte
o sonho
que rasga da terra pupilas cobertas de lágrimas
.
por dentro do meu olho passa um rio
musculatura do Tempo
nervo de impulsos encantos
artérias desaguando o breu
dentro de minha cabeça um arquipélago de rezas.
Antonia Nayane nasceu no dia 29 de novembro de 1989 com fissura transforame bilateral e fenda palatina, popularmente, conhecida como lábio leporino e goela de lobo. É amazônica natural de Castanhal, Pará. Atualmente reside em Belo Horizonte, Minas Gerais. Vive e trabalha entre esses territórios. Graduada em Ciência Sociais pela Universidade Federal do Pará. Artista multimeios. É autora do livro de poemas "Abraço sua Crina" publicado pela Impressões de Minas Editora.